Como ajudar as crianças a lidar com acontecimentos tristes

Crianças percebem a realidade ao seu modo, segundo sua capacidade cognitiva de percepção e compreensão*1. Elas podem ficar extremamente ressentidas com acontecimentos diversos e não saber lidar com fatos que, para nós, podem ser corriqueiros. Nós somos responsáveis por ajudá-las a passar pelos momentos ruins sem tanto sofrimento e obtendo o amadurecimento necessário.  

Algumas dicas sobre como lidar com problemas são abrangidas em obras infantis e em estudos de terapia e pedagogia. Seguem alguns livros que indico, bem como comentários e dicas úteis que podem ajudá-lo a cuidar bem, mesmo em momentos difíceis.    
Quando coisas ruins acontecem – Ted O’ Neal  

O livro lembra as crianças de que a vida é boa, apesar das dores pelas quais todos passam; que as situações de sofrimento existem, mas são temporárias e levam a aprendizados que nos tornam pessoas melhores.  

As crianças devem saber que é normal sentir raiva, entre outros sentimentos que parecem ruins. Os sentimentos delas devem ser respeitados, pois realmente existem e nem sempre são iguais aos nossos. Ouça-as antes de julgar ou tomar atitudes, mesmo as mais simples.  

Crianças sentem-se culpadas ou punidas quando algo de ruim acontece. É muito importante não fazê-las se sentir ainda pior, bem como conversar com elas sobre os fatos ruins sempre que ocorrem. A morte faz parte da vida. Todos têm limites. Há doenças incuráveis e acidentes cruéis independentemente de jamais termos os desejado.

Caso tenha dificuldade ou note que seus filhos são muito autoexigentes e perfeccionistas ou ainda castigam-se frequentemente, converse com um psicólogo infantil, ele te dará dicas sobre como lidar melhor com isso e avaliará se há necessidade de os pais e/ou de a criança entrar em terapia.  

As atitudes dos nossos filhos comumente são originadas pela nossa maneira de encarar a vida, por mais discretos que sejamos.  

O diálogo com as crianças é sempre uma grande chave. Não faça uso errado dele: não minta, não use as informações fornecidas pelas crianças contra elas mesmas (por castigo, chantagem ou por qualquer outro motivo). Não conte para ninguém o que elas te pedem para guardar em segredo - o diálogo é fundamental, mas só existe se houver confiança recíproca.


Como fazer de um dia chato algo espetacular – R. W. Alley 

As crianças também anseiam por respostas sobre por que são o que são e por que sentem o que sentem. Elas também sentem frustração quando as coisas não são como desejavam, sentem insegurança ao lidar com algo novo e precisam de apoio, compreensão e dicas sobre o que pensar e fazer.

A obra lembra que cada pessoa tem um jeito de lidar com seus problemas, bem como de demonstrar seus sentimentos; que as crianças podem não saber bem o que fazer ou como pedir ajuda quando se sentem mal; e coloca que estar entediado é estar esperando por algo acontecer ao invés de estar fazendo algo para sair do tédio; assim, sugere mudança de atitude.

Uma das sugestões é passar a conhecer que outras pessoas também sentem dor e vivem situações parecidas com a que a criança em questão vive e a saber que independentemente de quem somos ou do que temos, sempre podemos ajudar alguém. Sugere-se, então, a experiência da doação – oferecer por vontade própria um brinquedo a uma criança que não tem com o que brincar; levar alimento a um cão de rua*2.



Perdoar – Carol Ann Morrow  

Perdoar é livrar-se da necessidade de se vingar, mas não é permitir abusos, esquecer-se do fato, deixar de sentir tristeza ou passar a tolerar injustiças.

Perdoar é melhor para a saúde, mas não significa voltar a confiar em alguém prejudicial à alma.  

Segundo a autora, as crianças nascem com grande capacidade de perdoar e vão a perdendo por conta de observar nossas atitudes não verbais de rancor, vingança e castigos injustos.  

Educar abrange ensinar que é normal errar – todo mundo erra. Dar o exemplo corretamente, nesse caso, é: perdoar, conversar ao invés de punir e pedir desculpas sempre que cabível.

Mesmo as crianças mais novas podem ter o sentimento de orgulho e, por conta dele, embora querendo perdoar e voltar a brincar com algum coleguinha que a magoou, fica quieta. Nesse caso, um adulto pode aproximar as duas e pedir que elas falem, uma para a outra, o porquê fizeram o que fizeram e o que pensam e sentem sobre isso. Depois, peça que façam um pacto amigável e concluam-no com um aperto de mãos ou um abraço. Resolvido. Isso é o suficiente para que elas voltem a brincar sem rancores. Elas só precisam do empurrãozinho.

Lembre-se que crianças tendem a se sentir culpadas pelos acontecimentos sobre os quais não têm controle e a ter dificuldade em se perdoar! Quando uma criança lhe pedir desculpas, não lhe negue! Peça-a que se explique e tente compreendê-la. Faça um acordo com ela. Quando perceber que ela está se punindo mentalmente por algo que fez, ajude-a a refletir o quanto ela é boa, já fez e ainda pode fazer coisas boas.  

Devemos saber e ensinar que perdoar não significa eximir a si mesmo ou alguém da obrigação de consertar um erro, quando possível, nem desfaz um erro.  

O perdão religioso, que exige apenas o arrependimento ou orações, dinheiro ou sacrifícios é uma farsa. Criou-se a ideia de que um líder religioso poderia conceder perdões em troca dessas atitudes ou coisas, mas isso é um absurdo.

Ninguém pode perdoar alguém por outro ser vivo ou pela própria pessoa.

Essa ideia existe por alguns motivos bem comuns e óbvios:
- Concentrar mais poder ainda nas mãos de “certas” pessoas;
- Gerar mais lucros para algumas religiões;
- Gerar domínio pela confissão e pela capacidade de exigir algo em troca de tirar um sentimento de “culpa”;
- Permitir a alguns cometer as mais absurdas crueldades, como por exemplo práticas de pedofilia, pois será perdoado! Especialmente se for ele o dono do perdão.

Um exercício conhecido que nos ajuda a conseguir perdoar é colocar-se no lugar da outra pessoa e tentar compreender suas ações e sentimentos; mas CUIDADO: Nem todas as pessoas pensam, sentem e agem como nós e há pessoas ruins e perigosas das quais devemos sim nos proteger sempre!  


Quando mamãe ou papai morre – Daniel Grippo; Quando seus avós morrem – Victoria Ryan; Quando seu animal de estimação morre – Victoria Ryan; Quando alguém que você ama está com câncer – Alaric Lewis

O mais importante lembrete de Victoria Ryan é que a dor das crianças deve ser respeitada. Essa dor existe, não é igual a nossa, não deve ser desacreditada ou ignorada. Não deve ser objeto de sarros ou punições.

Crianças diferentes demonstram diferentemente suas dores, o que não significa que não sofram. Algumas demoram algumas semanas para acreditar e compreender a ocorrência de um fato.  

Todo luto precisa ser vivido, pois é parte da elaboração emocional dos fatos. Sem ele, pulamos de um momento para o outro e não elaboramos nada. Não se deve fingir que os fatos não ocorreram, mas sim conversar sobre eles, mostrar que adultos também têm sentimentos de vulnerabilidade, dor; que é normal chorar, sentir tristeza, medo e raiva.  

A dor da perda de um animal de estimação - de repente daquele peixinho dourado do qual a criança, secretamente, sempre se aproximou nos seus momentos de aflição ou com o qual compartilhou seus mais nobres segredos - pode ser muito mais intensa do que a da perda de um parente com o qual ela não tinha muita proximidade emocional. Respeite.



É interessante não ensinar a morte como um fim, isso dói muito. Quebrar um vínculo de uma vez machuca desnecessariamente. Os autores sugerem que a criança seja estimulada a escrever cartas para quem ela perdeu e guardá-las em uma caixinha ou agenda mágica a que, mentalmente, essas pessoas e animais perdidos tenham acesso; que elas saibam que os entes perdidos continuam vivos em seus sonhos, em suas doces memórias e que eles sempre existirão em seus corações e nos ensinamentos que nos deixaram.

Mesmo quando a família não possui nenhuma religião, Victoria Ryan prefere colocar que os entes queridos perdidos por uma criança, inclusive seus animais, foram para o céu: um lugar bom, belo, sem sofrimento, onde podem ouvi-las quando oram e onde podem acessar as cartas que lhes são escritas.

Há diversas obras espíritas e até mesmo estudos científicos sobre a alma dos animais. Alguns livros interessantes são de Marcel Benedeti e um dos mais intrigantes e bem argumentados é A Alma nos Animais, de Ernesto Bozzano

Na bela obra “Estrela cor-de-rosa, de Mônica Figueiredo” a garota que perde sua avó é levada a acreditar que a avó virou uma estrela do céu, assim, pode continuar se sentindo amparada, amada e tendo alguém a quem falar sobre seus sentimentos. Falar sobre sentimentos, mesmo consigo mesmo, é uma maneira de elaborar tais emoções e passar a lidar melhor com elas.  

A despedida, se possível, deve existir. É saudável, alivia angústias futuras. É importante, assim, ser sincero, não escondendo das crianças o que ocorre e o que estar por vir; deixe-as fazer parte: cuidar de um ente doente (dar comida, fazer carinho, ajudar em algo ainda que simples); participar das despedidas (levar uma flor, uma carta ou um desenho e colocá-lo junto ao caixão), conhecer sobre a doença, ter suas dúvidas sanadas. 

A família toda pode estar triste, mas é melhor que permaneçam unidos, sem críticas, respeitando o diferente tempo que cada um leva para elaborar acontecimentos.

Respeite! É errado ensinar às crianças que suas emoções são erradas ou impróprias. Emoções são parte de nós, devem ser aceitas e trabalhadas, do contrário, acumulam-se e tornam-se grandes problemas (em qualquer idade). Alaric Lewis lembra: "Não há problema em chorar, nem em ficar triste. Chorar não significa que você é fraco. É apenas um meio de seu corpo mostrar que você está triste. Todo mundo chora". 

Aceitar perdas não é fácil. As crianças não sabem que a dor que sentem não vai durar para sempre, então devemos mostrar isso a elas, bem como ensinar atos saudáveis que ajudam a afastar a dor:

Que tal ir pessoalmente a um abrigo de animais para doar, aos animais carentes, a comida e a caminha deixadas pelo cão que partiu? A criança verá que ainda depois da morte, seu animalzinho pode ajudar outros animais que estão aqui na Terra. 

Que tal levar as roupas da avó que partiu a um asilo e aproveitar para conhecê-lo? Certamente a avó ficaria feliz em saber que seu neto está aprendendo a ser uma pessoa generosa.

Há diversos outros livros infantis e adultos destinados a ajudar as crianças a passar por diferentes acontecimentos, alguns bastante específicos. Busque-os sempre que necessário. Como colocado em matéria anterior, nosso instinto natural não é suficiente para cuidarmos bem de verdade!!


Links para comprar os livros sugeridos:

   


      

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